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segunda-feira, 9 de abril de 2012

A mensagem














A “Mensagem” foi o único livro que Fernando Pessoa publicou enquanto era vivo, este tinha como objectivo chamar a atenção para um império superior ao material, um império espiritual (Quinto Império).

A obra está simbolicamente tripartida – “Brasão”, “Mar Português” e “O Encoberto” – que traduz a evolução do império português desde a sua origem (conquistas), passando pela “fase adulta” (descobertas) até à morte (decadência), a que se seguirá a ressurreição.

O “Brasão” representa a nobreza do povo português, fazendo referência aos construtores do império, o que corresponde ao nascimento da pátria, com referência aos mitos e figuras históricas até D. Sebastião. Dá-nos conta de um Portugal erguido pelo esforço e destinado a grandes feitos. Desta parte podemos salientar os poemas: “Ulisses” (símbolo da renovação dos mitos, “O mito é o nada que é tudo.”),”D. Dinis” (símbolo da importância da poesia na construção do Mundo, “Na noite escreve um seu Cantar de Amigo”) e “D. Sebastião, rei de Portugal” (símbolo da loucura audaciosa e aventureira, “Louco, sim, louco, porque quis grandeza”). Esta parte simboliza as conquistas que foram feitas por terra.

O “Mar Português” faz referência aos feitos realizados pela nobreza portuguesa; é nesta parte que o poeta fala do sonho marítimo, correspondendo à realização e vida do império português, referindo personalidades e acontecimentos dos Descobrimentos que exigiram uma luta contra o desconhecido e os elementos naturais. Podemos salientar poemas como “O Infante” (símbolo do Homem universal, “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”), “Mar Português” (símbolo do sofrimento por que passaram todos os portugueses, “Ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal”) e “O Mostrengo” (símbolo dos obstáculos, dos perigos e dos medos que os portugueses tiveram de enfrentar para realizar o seu sonho, “ Sou um povo que quer o mar que é teu;”). Esta parte simboliza as conquistas que foram feitas por mar (água).

O “Encoberto” induz o leitor para a imagem de um império moribundo; é onde se tem contacto com a ideia de que após a morte há a ressurreição para um novo império espiritual, moral e civilizacional, o Quinto Império. Nesta parte, Pessoa aproveita para mostrar a realidade do império, temos poemas com “O Quinto Império” (símbolo da inquietação necessária ao progresso, “Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar/ Sem um sonho, no erguer da asa/(…)/Triste de quem é feliz!”) e “Nevoeiro” (símbolo da nossa confusão, do estado caótico em que nos encontramos, tanto como Estado, como emocionalmente, mentalmente, etc., “Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,”). Esta parte simboliza a morte do império português, mas Pessoa deixa a ideia/esperança que um novo império se irá formar, um império espiritual (daí simbolizar o ar).

Em toda a obra está presente o número três, que remete para a união entre Deus, o Universo e o Homem (“Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce.”). Este número é ligado a Cristo, que simboliza três figuras: a de rei, a de padre e a de profeta, na obra aparece associado a dois grupos de poemas: “Timbre”, onde pertencem os poemas “A cabeça do Grifo: O Infante D. Henrique”, “Uma asa do Grifo: D. João II” e “A outra asa do Grifo: Afonso de Albuquerque”, cumprindo estas personagens históricas o papel de rei e de padre, pelo seu Poder e pela sua Espiritualidade (“Tem aos pés o mar novo e as mortas eras” (…) “O único imperador que tem deveras/O globo mundo em sua mão”; “Braços cruzados, fita além do mar” (…)“E parece temer o mundo vário/Que ele abra os braços e lhe rasgue a vida”; “ De ver o mundo e a injustiça e a sorte” (…) “Não pensa em vida ou morte.”); e “Os Avisos”, onde estão integrados os poemas “O Bandarra”, “António Vieira” e “Terceiro” (que simboliza o próprio Pessoa), cumprindo a função profética do anúncio do Quinto Império.

O número três é o número da perfeição, o que podemos afirmar que Pessoa dá a sua obra com perfeita (por estar tripartida) e que a fase mais importante do império português foi as descobertas, pois é na segunda parte (“Mar Português”) que o poeta remete para este número (12 poemas, 1 + 2 = 3).

Podemos também relacionar a estrutura tripartida com o espaço: histórico, mítico e místico. Durante toda a obra conseguimos relacionar os poemas com factos históricos de Portugal. O aspecto mítico está presente ao longo dos poemas, como por exemplo no poema “Ulisses” (“O mito que é nada que é tudo.”), mas principalmente na última parte da “Mensagem” – “O Encoberto” – onde o mito sebastianista está presente (ex. “D. Sebastião”, “O Encoberto”, “Nevoeiro”). E, por fim, o aspecto místico onde podemos indicar poemas como a “Ascensão de Vasco da Gama”, onde o herói sob ao nível dos Deuses, tornando-se “imortal”, isto é, não cai em esquecimento.

O título da obra – “Mensagem” – também nos remete para uma estrutura tripartida, já que se pode dividir silabicamente em três partes (Men – sa – gem ), curiosamente Portugal também tem a mesma divisão (Por – tu - gal).

Em conclusão, podemos afirmar que a “Mensagem” é uma obra complexa, com muitos significados “escondidos”, e que Fernando Pessoa a dividiu propositadamente nas três partes que simbolizam o ciclo de vida do império português: o nascimento, o crescimento (momento áureo histórico) e a morte da pátria.

http://www.notapositiva.com/pt/apntestbs/portugues/12>

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O meu primeiro romance

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A Mão dos Deuses – O Primeiro Rei é um romance de fantasia épica que aborda temas comuns à natureza humana, tais como as origens do bem e do mal, o significado último da vida e a transição da infância à idade adulta, tendo como plano de fundo um mundo remoto, Elmurya. Simultaneamente paradisíaco e encantador, obscuro e assustador onde seres angelicais e feéricos se debatem perante monstros e demónios que se agitam na penumbra, os filhos das sombras. Tudo pode acontecer! - Obra sujeita a direitos de autor.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Tubarão - cobra

O que é que faz do tubarão-cobra um animal recordista?


Habituado a viver em profundidades entre os 600 e os 1000 metros, este espectacular animal raramente é avistado pelos humanos. Tanto melhor para este, porque beleza não será certamente um dos atributos deste predador.


Todavia, o que destingue este peixe de todos os seres vivos é que a sua espécie é a que tem um periodo de gestação mais longo. Dar à luz um destes pequenos monstros pode obrigar a progenitora a uma gravidez de 3 anos e meio. Considerado um fóssil vivo, tendo já sido encontrados esqueletos com 80 milhões de anos a comprová-lo, este vive junto à costa portuguesa, no entanto muito raramente é avistado.

Fonte: Suplemento de Domingo Correio da manhã edição nº11728

A árvore de Portugal

As associações Árvores de Portugal e Transumância e Natureza pretendem classificar o sobreiro como a Árvore Nacional de Portugal.



Fonte: Suplemento de Domingo Correio da manhã edição nº11728

Povos antigos

Os callaeci


Sábios na adivinhação pelas entranhas, penas,
e chamas, mandou a rica Galécia seus jovens,
que agora ululam as canções bárbaras de sua língua,
pisoteando a terra batida, a pés alternados,
e acompanhando o feliz número com os seus escudos ressoantes.
(Em o épico Punica, por Sílio Itálico, século I d.C.)


Os galaicos (callaeci ou gallaeci, em latim e kallaikoi em grego), também conhecidos por calaicos, eram um conjunto de tribos celtas (Aidwoi, Albioni, Arronioi, Baniensses, Brassioi, Brigantini, Cilenos, Koukoi, Límios, Nerioi, Sewroroi, Túrodes, Artabroi, Zoelae, Abobrigoi, Artodioi, Bracaroi, Ekwesioi, Interammikoi e Kalaikoi) que habitavam o noroeste da península Ibérica, região que corresponde hoje em dia ao espaço geográfico que abrange o norte de Portugal, a Galiza, as Astúrias e parte de Leão. Sem duvida alguma o povo que ocupou território hoje português que mais vestigios deixou para a posterioridade. Através destes entendemos a forte ligação dos povos ibéricos com a cultura celta.


Os seus povoamentos designados por castros eram povoados fortificados situados num lugar estratégico para facilitar a defesa da população. Tinham também que dispôr de acesso fácil a recursos alimentícios e água, pelo que se situavam habitualmente entre a zona de montes e prados e a de bosque e cultivos. Existiram castros de muitos tamanhos e tipos; entre estes destacam-se os da costa e os do interior.
As plantas destes assentamentos são redondas: mais ou menos circulares ou ovaladas. No seu interior as construções, nas quais também dominam as formas circulares ou elípticas, distribuem-se sem ordem aparente, ainda que é possível que existisse algum tipo de organização e que os agrupamentos respondessem a algum tipo de função que se desconheça hoje.
Ainda que não se sabe exactamente o seu número; a quantidade total, para todo o território do noroeste, devia rondar os 4000 ou 5000, o que indica uma elevada densidade de povoação para a época.

"Durante dois terços do ano, os castrejos alimentam-se de bolotas, que secam e trituram e, depois, moem para fazer pão, que conservam por muito tempo."


Dos galaicos sabe-se que trabalhavam o ouro, o ferro, o bronze e o barro.

Os povos castrejos (já conhecidos pelos Gregos com o nome de "Kallaikoi", ou seja, Galaicos) foram definitivamente derrotados pelos Romanos no ano 19 a.C., invadidos desde a Lusitânia pelas tropas de Décimo Júnio Bruto, o Galaico. As teorias mais divulgadas falam da origem do seu nome como sendo dado pelos romanos por terem sido a primeira tribo que enfrentaram, na zona de Cale e, pela sua braveza e espírito guerreiro, viu estendida a sua designação às outras tribos galaicas do Noroeste Peninsular. Outra teoria tem vindo a ganhar aceitação, nos tempos mais actuais. Esta relaciona os Callaeci com Cailleach, a deusa-Mãe dos Celtas, por estes serem adoradores desta divindade

Religião


Embora pouco se conheça sobre as suas práticas relegiosas, se tinham alguma classe sacerdotial ou não, o certo é que o símblo abaixo era uma precensa constante em toda esta cultura. O trisquel é e era um simblo mágico com três braços girando em sentido contrário aos ponteiros dos relógios que simbolizava a continuidade da vida e do crescimento espiritual, o fluir constante do processo natural com um triplo significado místico entre os povos celtas que unia o fisico, o mental e o espiritual, sendo o três um número mágico para eles e origem do que posteriormente o cristianismo adoptaria como "Santíssima Trindade": Um só deus com três formas.


Os seus principais Deuses

BANDUA (BANDUE, BANDUJE) – Este seu carácter de Deus masculino, é o protector dos territórios e das localidades. Ele é quem ordena e faz por cumprir as leis tradicionais estabelecidas.

BANDOGA (BANDONGA) - É uma divindade importante no norte da Lusitânia. É o carácter feminino da divindade, é a protectora da tribo e da família, quem ordena e faz as leis.

BANDERAEICUS - É uma outra adoração do deus Bandua.

BANDIOILENAICO - É uma outra manifestação do deus Bandue no norte da Lusitânia.

BANDUEAETOBRIGUS - É mais uma outra natureza do Deus Bandue.

BANDUS (BANDI, BANDE, BANDA, BAND) – É uma divindade importante venerada pelas tribos da federação Galaica no norte da Lusitânia. É esta divindade quem ordena e faz as leis.

NABIA (NABICA, NAVIA, NABIAE) – Deusa mais importante no norte da Lusitânia. É uma Deusa fertilizadora da natureza, das águas, fontes e rios, assim como dos bosques. Está casada com o Deus Coronus.

REVA (REUA)– É uma manifestação feminina do deus REVE. O seu carácter Feminino é Reua, o seu carácter masculino é Reue. Tanto personifica a Mãe deusa da vida e da morte como protege os homens e é o protector dos mundos.

REVE (REUE, RAUUE, REUS)– É a divindade mais importante de todo o Panteão supranacional Galaico-Lusitano original. Ele personifica, como o Grande Espírito masculino da Natureza que protege os homens e os mundos.

CORONO (CORONUS)– Deus cornudo coroado nos mundos subterrâneos, está ligado à guerra e à morte. É o esposo da Deusa Navia. Adorado pelos Calaicos.

Outros Deuses

AERNO (AERNUS)– Deus poderoso do norte da Lusitânia. É o Deus do Tempo e das Tempestades e principalmente é o Senhor dos ventos do norte.

BORMANICO (BORMO, BORMANICUS) – Deus tutelar das águas termais. Está ligado às águas, ao dilúvio, à catástrofe e à morte. As águas possuem a virtude da purificação, do renascimento e da revelação. É uma divindade do oceano primordial e era adorado perto de Guimarães.

CUSUNENEAECUS (CUSUNENEOECUS) - Deus guerreiro venerado pelos Calaicos.

TAMEOBRIGO (TAMEOBRIGUS) – Deus poderoso, protector dos doentes e acompanhante dos defundos. Também é adorado como um Deus guerreiro da guerra, da caça e das florestas dos Calaicos.

TONGOENABIAGO (TONGE, TONGO, TONGENABIAGO, TONGOENABIACO, TONGAE, TONGOENABIAGUS, TONGOE NABIAGOI) – Deus dos Brácaros Calaicos, aquático das fontes e dos juramentos que se faziam a ele junto das fontes da sua invocação. É também um Deus fertilizador.

TURIACO (TURIACUS, TURIAGO, COSUS TURIACUS)– Deus muito poderoso venerado no norte da Lusitânia pela tribo dos Gróvios Calaicos. É o Deus do Poder, é o Senhor da Guerra e o Rei do seu Povo adorador.


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Galaicos

http://revvane.com.sapo.pt/panteaodeus.html

Fotos: Retiradas da Net

O libertador 2ª parte

(Conto alegórico e hilariante que relata a vida de um jovem rapaz nascido nos finais do século passado.)

O primeiro dia de escola foi para Jesus um tormento. Aquela criança intangível e iluminada, que estava longe de esquecer o lugar de onde viera e ao qual pertencia, teve uma primeira infância santa, distante dos muitos horrores deste mundo, apadrinhada pelos seus pais e restante família, através do seu amor incondicional. O quintal lá de casa, o estádio da luz, os jardins lá do bairro e as praias da linha às quais ia com a família aos domingos, eram os seus lugares sagrados. O menino era um rei dos céus, isto até aquele dia fatídico em que tudo mudou na sua vida.
Decorria o quarto ano da década de oitenta. Um período bastante marcante para a história do século XX, segundo o ponto de visto dos acontecimentos políticos e sociais. O qual, segundo muitos, marca o fim da idade industrial e dá início à idade da informação. No mundo, o atentado contra o Papa João Paulo II, a eleição de Ronald Reagan nos Estados Unidos da América e de Margaret Thatcher no Reino Unido marcaram todo este período, traçando a política neoliberal que hoje é apanágio da maioria dos países capitalistas. Popularizaram-se os computadores pessoais, os famosos PCs, os walkmans e as videocassetes. Michael Jackson assusta o mundo com Thriller, o álbum mais vendido da história.
Por cá, no nosso pequeno Portugal, eram os grandes que desfrutavam do sol do país, assim como das suas riquezas naturais. Vestiam e comiam bem, deslocando-se em brutos carros, enquanto o povo enganado acorria às grandes superfícies comerciais, imponentes estruturas de betão que surgiam por toda a parte quer fosse em reservas naturais, quer fosse nos descampados onde outrora as crianças brincavam, em busca das maravilhas tecnológicas que sabiam existir através das hipnóticas fitas de Hollywood, esquecendo assim a palavra de ordem; “Estamos em crise!”. Houve quem gritasse bem alto, alertando para o que aí viria, mas os seus gritos soaram mudos às gentes portuguesas.
Lá no bairro o mais falado e admirado era aquele que tinha um bom transístor, com o qual reunia toda a vizinhança aos domingos, a fim de escutar os relatos de futebol. Quando já todos tinham um, de ultimo modelo, o mais célebre já era aquele que possuía uma televisão. E, quando já todos tinham uma, a criatura mais admirada era aquela que se deslocava de automóvel para o emprego, e com o qual durante o fim-de-semana levava toda a família a passear à terra. Não querendo perder o comboio da evolução, José Bonifácio, depois de tirar a carta de condução à quinta tentativa, assaltou as suas economias e adquiriu um volkswagen carocha, já com mais de dez anos de existência, o menino dos seus olhos.
Era um grande dia para a família Bonifácio, Jesus ia entrar para a escola para poder vir a ter um futuro brilhante, e José teria agora a sua grande oportunidade de exibir a sua nova aquisição, pelo bairro inteiro. Maria acordou o filho muito mais cedo do que o habitual, “Acorda filhote, hoje é o teu grande dia, aquele em que vais fazer parte deste mundo”. Jesus acordou e fitou a mãe, ainda estremunhado e de olhos esbugalhados, “ Porque me acordaste, mamã, ainda não há sol?” perguntou, madraço. “Para onde é que a mãe te disse, ontem, que tu ias?”, Jesus nada respondeu, limitando-se a olhar para a mãe pasmadamente. “Vais para a escola, aprenderes a ler e a escrever para vires a ser um grande homem!”
Triste, por saber que iria ter um dia diferente, deixando para trás as suas expedições pelo quintal lá de casa, longe de tudo o que tão bem conhecia, Jesus, lá se levantou contrariado, tropeçando nos brinquedos que estavam espalhados pelo chão do seu quarto. Maria vestiu o filho num abrir e fechar de olhos, levando-o de seguida para a cozinha, onde umas aloiradas torradas besuntadas de manteiga e um copo de leite quente o aguardavam. “ Jesus credo!”, exclamou Maria ao escutar a estridente buzina do carocha de José. “O que foi que eu fiz?” perguntou Jesus abismado e assustado pelo barulho ensurdecedor, “Não era para ti meu filho, estava-me a referir ao outro Jesus das nossas vidas, o nosso senhor do céu”, explicou confusa. “Não conheço o senhor, quem é?”, perguntou o menino, na inocência dos seus seis anos. “Deixa para lá, hás-de aprender isso na escola, agora despacha-te que o teu pai está à nossa espera, para te levar à escola.
Enquanto aguardava pela mulher e pelo filho, agarrado ao volante do seu estimado automóvel, estando este a queimar gasolina, José, grandemente embevecido respondia às perguntas da multidão de curiosos que se acercara de si, escutando também alguns comentários, uns agradáveis, outros não tanto; “Quantos quilómetros dá?”. “Gasta muito?”. “O teu é melhor de que o meu!”. “O meu bate este à distância!”. Entretanto Maria surgiu à janela, “Espera que já estamos quase despachados, o menino só está à acabar de comer”, José voltou a buzinar e disse: “Ele que coma pelo caminho, que daqui a menos de uma hora tenho que ter a oficina aberta!”. Maria colocou, nas costas da criança, a mochilinha que havia comprado no dia anterior com imenso carinho e arrastando o filho consigo saiu porta fora,”Ainda não acabei de comer!” queixou-se Jesus, “Anda vá, comes pelo caminho”.
Não querendo parecer uma desmazelada perante as futuras preceptoras de Jesus, Maria, aperaltou-se conforme as circunstâncias assim o exigiam, pintando os lábios e vestindo uma bonita saia de padrão axadrezado, que lhe dava pelos joelhos. Ao vê-la, as atenções da vizinhança, as quais estavam centradas no carocha de Bonifácio, dispersaram-se deste e centraram-se em si. “É lá!”, grunhiu um engraçadinho qualquer. “Parece ela que vai à igreja”, sibilou a Dona Adelaide aos ouvidos da Dona Gertrudes, que por sua vez disse: “Não queres uma florzinha para pôr no cabelo, filha?”. Antes que alguém dissesse o que não devesse, José voltou a buzinar, agora com impetuosidade, fazendo com que todos dessem um salto e desviassem o olhar na sua direcção. A deixa perfeita para que Maria e a criança entrassem na viatura. Uma vez dentro do automóvel, José fez o motor roncar e arrancou.
Maravilhado com tudo aquilo, Jesus, seguia viagem com o rosto afundado no vidro da janela, fitando com entusiasmo tudo o que surgia à sua volta. “Um dia ensino-te a conduzir, meu filho”, disse José, virando-se para trás para o olhar. “E se te preocupasses menos com isso e te concentrasses no que estas a fazer”, admoestou-o Maria, mas já tarde de mais, quando pôs de novo os olhos na estrada, José não conseguiu evitar o passeio e galgando o mesmo foi de encontro aos caixotes de peixe da Dona Etelvina, a qual costumava vender à entrada do pátio, espalhando o seu conteúdo pelo chão. “ És sempre a mesma coisa!”, exclamou Maria. “O que posso fazer por si, Dona Etelvina?” perguntou José, ao sair da viatura e depois de ter ouvido, da parte da peixeira uma medonha série de impropérios. “Já têm almoço para hoje?”, perguntou a peixeira com um sorriso cínico no rosto. “ Não, ainda não”, respondeu Maria“. “Sempre me podiam comprar algum peixe, para me minimizar os estragos”, sugeriu a mulher. Não querendo perder ali mais tempo, o casal comprou uma dúzia de sardinha, a qual fora apanhada directamente do chão para o saco. Enquanto isso, Jesus desatou a chorar, pois com o impacto havia dado um salto e batido com a fronte, nas costas do banco da frente. Procurando acalmar o filho, Maria colocou o peixe em cima do banco onde havia seguido até então e foi-se sentar ao lado do filho no banco detrás.
Com o receio de ter que fazer novamente uma paragem brusca, podendo magoar o filho, José seguiu a vinte quilómetros por hora, originando assim o primeiro buzinão da história do automóvel. Ainda não haviam descido a rua por completo, quando José se lembrou que o peixe poderia manchar o estofo do banco. Consequentemente, Maria retirou o peixe de onde estava, e ela mesmo o levou. Ao fazê-lo ficou numa posição menos imprópria, de rabo no ar, a modos que quem seguia atrás deles pôde apreciar as vistas. Ao ouvir um coro de vivas e mais buzinadelas, José, voltou a tirar os olhos da estrada para se inteirar do que se estava a passar, ao fazê-lo não se apercebeu do enorme cão que se lhe cruzou no caminho e atropelou-o. Jesus voltou a chorar e Maria saltou disparada para frente. “ E agora o que faço?” perguntou José, “ Isso é um problema que te cabe a ti, pois eu vou levar Jesus à escola, e a pé”, respondeu Maria.
Enquanto José se viu no centro de um autêntico tumulto, Maria pegou Jesus pela mão e apeada segui caminho, “Espera, já viste como estás, não podes aparecer na escola assim”, disse Bonifácio para a sua mulher, a qual furiosa o ignorou e continuou a andar, rua abaixo. “Porque não vamos com o pai?”, perguntou Jesus visivelmente confuso. “Porque é mais seguro, meu filho”, respondeu-lhe a mãe. Depois de descerem a rua, atravessaram o entroncamento e andando mais um pouco alcançaram um velho edifico, certamente erigido na primeira metade do século, de aspecto sombrio e decadente. “Eis a tua escola”, anunciou Maria. Jesus chorou de novo, sendo convencido pela mãe a entrar no edifício, só ao fim de uma hora e depois de comer dois bolos repletos de creme, comprados na pastelaria da esquina.
De novo junto à entrada do edifício, Maria tocou à campainha, a qual gerou um barulho ensurdecedor, e instantes depois tinha perante si a empregada de serviço daquela instituição, a balofa Dona Amélia, a qual trazia o seu bibe azul impregnado de nódoas e aparentava um ar extremamente enfadado, “Bom dia, minha senhora”, proferiu o mais simpaticamente que conseguiu. “Este é Jesus, já está tudo tratado com a patroa, volto às seis para o apanhar, a senhora já reparou nas nódoas que tem na bata?”, proferiu Maria. A Dona Amélia limitou-se a segurar Jesus pela mão, puxando-o para o interior do edifício e depois de esboçar um esgar de troça disse, muito educadamente: ”A senhora não tem espelhos, suponho!?”
Após desejar um bom dia ao filho, despedindo-se deste, intrigada Maria retirou o seu pequeno espelho da sua bolsa e mirou-se, não podendo, nem querendo acreditar no que via. Os seus cabelos estavam em tamanho desalinho que mais pareciam um ninho de ratos, a sua maquilhagem estava toda esborratada e a sua saia tinha uma enorme mancha de água, já para não comentar o cheiro a peixe que emanava da sua pessoa. “José Bonifácio, seu trapalhão, juro por Deus que vais estar mais de duas semanas a tentares abrir a porta de entrada”, pensou.
Depois de largar a mão de Jesus, a dona Amélia virou-se para ele e disse: ”Bem findo ao inferno!”. Longe de compreender o que lhe havia sido dito, Jesus apenas reparou na enorme verruga que a senhora tinha no queixo, após a fixar por instantes a criança olhou-a nos olhos, procurando encontrar algum conforto, mas o que viu desapontou-o. Aquela criatura horripilante sorria com desdém e o menino desatou novamente a chorar. “Bolas, mais um chorão!”, exclamou como sempre enfadada.
Instantes depois, a Dona Amélia depositou Jesus numa enorme sala fechada, cuja única janela para o exterior se encontrava trancada. O chão era pavimentado por cimento e, quatro paredes frias e húmidas delimitavam o recinto. Ali centenas de crianças gritavam histericamente, perseguindo-se umas às outras numa correria desenfreada. Jesus chorou mais uma vez. No meio de toda aquela loucura, sentadas num dos muitos bancos corridos que ali se achavam, encontrou entre todas aquelas crianças as únicas que lhe pareceram ser normais tal como ele. “Eu sou Jesus, e vocês como se chamam?”. A menina, lourinha e vesga, disse chamar-se Gloria. E o menino, gordinho e mandrião, disse chamar-se Joaquim.
Ao final do dia Maria telefonou a José, dizendo que não ia poder ir buscar o filho, pois encontrava-se no cabeleireiro e certamente ainda ia demorar. José não podendo, nem querendo fechar a oficina pediu à sua mãe, muito simpaticamente, se não se importava de ir buscar o neto à escola. “É com todo o gosto que o faço, meu filho, Jesus vai ter uma enorme surpresa”, disse a Dona Jorgete ao telefone.
Quando a porta da escola se abriu e Jesus avistou a avó Jorgete os seus olhos brilharam. E, quando a sua querida avó lhe perguntou o que havia feito naquele dia Jesus respondeu: “Hoje conheci o inferno, é um lugar frio e gélido repleto de criaturas feias e más, reneguei-o assim que lá entrei, mas para meu bem, lá também estão dois anjos que a todo o custo tentam salvar as almas perdidas. É bom saber que não estamos sós!”. A Dona Jorgete abriu a boca de pasmo, e ao fazê-lo deixou cair com aparato no chão a sua prótese dentária. Depois de colocar no seu devido lugar o objecto que havia deixado cair, disse: ”Deus te abençoe, meu filho!”

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A lenda de São Vicente e dos Corvos

Em tempos muito antigos, quando o rei Rodrigo perdeu a batalha de Guadalete e os Mouros ocuparam a Península Ibérica e ordenaram que todas as igrejas fossem convertidas em mesquitas muçulmanas, os cristãos de Valência, entre eles um deão (decano), quiseram pôr a salvo o corpo do mártir S. Vicente que estava guardado numa igreja.


Com intenção de chegarem às Astúrias por barco, fizeram-se ao mar levando consigo o corpo do santo. Cruzaram o Mediterrâneo sem perigo, mas quando chegaram ao Atlântico o mar estava mais turbulento e foram forçados a aproximar-se da costa. Perguntaram então ao mestre da embarcação qual era aquela terra tão bela e aquele cabo que avistavam.

O mestre respondeu-lhes que a terra se chamava Algarve e que o cabo se chamava promontório Sacro. Foi então que os cristãos de Valência consideraram a hipótese de desembarcar, construir um templo em memória de S. Vicente e dar o nome do santo ao cabo mais ocidental, junto ao promontório de Sagres. Mas enquanto estavam nestas considerações, o barco encalhou, o que os forçou a passar ali a noite.

Na manhã seguinte, quando se preparavam para retomar viagem, avistaram um navio pirata. O mestre da embarcação propôs-lhes afastar-se com o navio para evitar a abordagem dos corsários, enquanto os cristãos se escondiam na praia com a sua relíquia. Depois viria buscá-los. Mas o barco nunca mais voltou e os cristãos ficaram naquele lugar, construíram o templo em memória de S. Vicente e formaram uma pequena aldeia à sua volta, isolados naquele lugar ermo.


Entretanto D. Afonso Henriques entrou em guerra com os mouros do Algarve e estes vingaram-se dos cristãos de S. Vicente, arrasando-lhes a aldeia e levando-os cativos. Passados cinquenta anos um cavaleiro veio avisar D. Afonso Henriques que existiam cativos cristãos entre os prisioneiros feitos numa batalha contra os Mouros.

Chamados à presença do rei, o deão, já muito velho, contou-lhe a sua história e confidenciou-lhe que tinham enterrado o corpo de S. Vicente num local secreto. Pedia ao rei que resgatasse o corpo do mártir para um local seguro. D. Afonso Henriques aproveitou um período de tréguas na sua luta contra os Mouros e zarpou num barco com o deão a caminho de S. Vicente.

Mas o deão morreu durante a viagem e sem saber o local exacto onde estava enterrado o santo, D. Afonso Henriques aproximou-se do cabo e das ruínas do antigo templo. Foi então que avistou um bando de corvos que sobrevoavam um certo lugar onde os seus homens escavaram e encontraram o sepulcro de S. Vicente, escondido na rocha.


Trouxeram o corpo de S. Vicente de barco para Lisboa e durante toda a viagem foram acompanhados por dois corvos, cuja imagem ainda hoje figura nas armas de Lisboa em testemunho desta história extraordinária.


Fonte:contosdeadormecer.wordpress.com